terça-feira, 29 de junho de 2010

Durma bem...

A insanidade Dele também me dá segurança, a insanidade deles me torna mais são, mais puro, até mais humano. O que seria de mim sem a minha alma? Que personalidade é essa que me provoca? Me acalma saber quantos ainda virão. Quantos ainda terão chances, terão medos, enfrentarão qualquer coisa por amor... Quantos ainda viverão o que eu não posso viver. Ou qualquer coisa melhor que torne-os inteiros, qualquer coisa que não funcione como anestesia instantânea (desequilíbrio de base). Qualquer coisa que funcione como uma máquina de perdão, entre amigos e colegas que você nunca decifrará. Entre pessoas que você acha conhecer. Entre sistemas que ainda serão burlados e notas em papel de um bom dia pela falta de tempo no mundo (su)real. Entre o que você escolhe, o que você prioriza, porque as pessoas tomam decisões. E eu escolhi ser o que sou; esse é o mundo real.

(Escrito no Twitter. Follow me: @rafasady)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Vale ressaltar

Não aceito mais as divagações constantes,
dos meus olhos que saltitam
na passarela de algum dom.
Sem pouco quebranto
que me torne frágil como cristal,
que me afogue nas constantes silhuetas analisadas.

Vale ressaltar a solidez das palavras cortantes;
aquelas cruzaram o líquido pesado
e iam escorrendo tão rapidamente sem me permitir parar.

E só pedi um parar.

As nuvens quase tão estreitas e desajeitadas
trouxeram a água que faltava,
trouxeram tantas vezes, molharam tantos passos
de um caminho perdido aqui.
O todo perto do que eu procuro,
o mundo para eu nunca encontrar.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Validade

Não são onde as coisas se encontram, não são o que elas fazem, não são lembranças, não são as temeridades que impedem um sujeito. E o vulgar toma o espaço ambíguo, toma o espaço por inteiro, nessa atividade que o perigo não destina, que o incerto não aponta. Talvez alguma lucidez te cure, mas não arrisco os meus talvezes, porque eles são sempre tão infelizes quanto os meus calcanhares doídos. Não te peço perdão por falta de palavras e até de culpa, falta culpa, falta tudo em mim que não preenche e me torna vazio. Falta uma ansiedade, porque a certeza é tão grande que o conformismo denota surpresa, me torna forçado a viver o que não digo que é vida. Mas vivo pelo que me acostumei a ver. Isso eu guardo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Fragilidade contundente

Remanesce uma luz
dentro de mim,
uma fronteira pesada
cercada de construções lunáticas.

Remanesce o desejo de não desistir,
pois o de não existir
esvaiu-se no momento em que
não soube mais o que restou.

Viram-se as pontes,
da velhice que não perco.
Ponho-me inteira,
sedenta de passos firmes.
Completo-me na brisa folgada,
nas estrelas que sobraram dessa cidade
"tão avançada" que construí.

Não vejo a minha mãe há tempos,
há vidas.
Desconheci o prazer de tê-la por perto,
porque não desconheço mais,
porque não me conheço mais.

Num espelho quebrado,
desenhei com o dedo indicador
soltando um bafo úmido e simpático:
"onde estou?"

Só Deus sabe.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Pedidos

Não há presença que dure para sempre, apenas um futuro imperfeito que nos consome com a espera. Há uma falta, um inconformismo. Olhar utópico. Pede-se paciência aos desavisados, não para desenvolver uma pseudo-idealização de outro plano, não para aceitar, nem amadurecer. Pede-se paciência apenas, paciência em respeito a liberdade, paciência em respeito a diversidade. Pede-se paciência para que possamos compreender o lado oposto sem descaracterizá-lo, sem falsificar ou tomar medidas de ódio extremo.
Na vida, quase nunca teremos os méritos de personificações pacíficas, talvez cheguemos àquelas ambiciosas, o fingimento parcial. O que talvez seja necessário num âmbito em que a intolerância e a tolerância só sejam vistas de modo agressivo. Talvez precisemos respeitar o espaço intolerante também, sem reprimí-lo do que nos ofende, sem a violência característica daqueles que julgamos intolerantes... Transformaria-nos neles.
Não é o nosso dever discutir a maldade alheia, não é o nosso dever definir o que é mau. Ser bom por gostar de ser, não como obrigação. Fazer-se entendido, fazer-se claro, formar-se como cidadão, como competente, produzir o necessário, produzir a sua altura e crescer. Crescer para onde? Crescer para qualquer lugar. Pois aqui afirmamo-nos humanos, seres de um dedinho polegar opositor. Aqui nos firmamos dotados de uma massa encefálica quase completa ao meu ver, uma massa que chega a ser pefeita numa definição esdrúxula. Perde-se o amor resoluto, ganham-se as questões, abstraem-se as significâncias para o mundo interno, este mundo populoso. Para que, no final do dia, possamos deitar e agradecer a vida não-eterna que o ontem nos obrigou a ter.