sexta-feira, 30 de abril de 2010

minúsculas

na infinidade de tudo o que poderia te dizer violentamente, reprimo. indicaria sinais como uma forma de melhorar o que não foi cumprido devidamente. há mais solubilidade entre a liberdade, doçura e o choro do que no parar no meio de uma porta errada, com chaves inúteis.
os olhares se perderão como um sentimento comum, como perspectivas de destinos e planos espalhafatosos.
nós, os palhaços, possuídos pelos nossos carmas individuais, participando de alguns carros alegóricos que entoam o medo de nossas verdades. nada como o veludo, o conforto de ser especial. tu melhor danças no escuro, enquanto chovem os dias na tua sobriedade. no tanto que o tempo tem e se cumpre. mas esvai-se, torna-se, alega-se, propõe-se. como sol. sem queimar todos os esquemas suficientes que tragam paz. dói-se, perde-se, inunda-se, cede-se. no meio de tudo que pedra nenhuma impediu. perdão.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Lucidez

Não haverá um só desastre
entre as palavras não ditas,
nem entre a repressão escrita.

Sem os dias de glória
sem as noites de folga,
não existirá a guerra,
nem rirão da fome
de quando em quando
e de apenas em apenas.

Somente um incentivo tornar-se-á
dono das escadas que a imaginação produz.
E, sim, estará contra os degraus
que erigem nitidamente
todos opostos aos narcisistas.

Quem encontra o sossego perceptor,
quem envolve o tato,
mais que química tem,
mais que sentimentalismo,
mais que conceitos quebrados,
cortados,
ligados,
fundados em tudo o que a essência já permitiu julgar.

E a causa do medo
encontrar-se-á nas linhas perdidas
que ninguém explica,
que ninguém entende,
que ninguém obtem obtusamente,
mas que todo mundo quer indicar.

Mais que frio,
gelo
e morte,
eles transformarão tudo em todo,
enquanto os dias iniciais
durarem mais do que a suficiência
de serem os mesmos.

sábado, 24 de abril de 2010

Fernando Bonassi - Folha de São Paulo, 06/05/98

Eu escrevo porque tenho raiva. Escrevo porque tenho medo. Porque tenho fome. Eu escrevo porque fazer um filme é caro e demorado demais. Eu escrevo porque pra fazer um filme, via de regra, é preciso beijar a mão de canalhas presidentes, canalhas secretários de Estado, canalhas prefeitos... Escrevo porque a mão dos canalhas que beijei tinha gosto de ovo podre. Eu escrevo para burilar minha burrice infinita. Pra não ser vítima da minha própria crueldade. Eu escrevo porque a vida vai ficando cada vez mais enrolada, ao contrário do que meu pai dizia, e assim é como se eu estivesse num trem rápido, com meio corpo pra fora, tentando agarrar os matos do caminho. Eu escrevo porque me acho melhor que os outros... e sofro de vergonha. Escrevo porque de uns tempos pra cá começaram a me dar algum dinheiro por isso. Eu escrevo para humilhar as pessoas que não gosto. Eu escrevo porque pareço ter acesso a mais profundezas trágicas e úmidas do que se fizesse pontes, móveis ou sapatos. Escrevo porque nunca fui bom em esportes, tenho tique no rosto e meu cabelo cresce torto. Eu escrevo porque não tenho útero e não posso ser mãe de nada. Eu escrevo pra um dia poder parar com essa frescura de escrever e viver comigo. Simplesmente. Feliz como uma vaca feliz. Sem texto, sem droga nenhuma.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Rafa's Anatomy

Talvez não contaremos mais quantas vezes vamos nos apaixonar. Talvez os televisores informarão as nossas próprias tempestades e tragédias algum dia. Talvez o que é de verdade e o que transpira bondade possa demorar a chegar... Mas nós sempre sobreviveremos. E essa paz que nos consola agora será cada vez mais intensa, enquanto o prazer de nossos vícios estiver aqui.

terça-feira, 20 de abril de 2010

ponto de encontro

queria eu poder mais
queria eu todas as doses
os preços
a culpa
queria sentir mais que só
somado a necessidade do bastante

do suficiente
eu queria entender
do ausente
queria ocupar a vaga que o estacionamento
de minha vida paralela
deixa pendente

e da cegueira que me acolhe
carregada
de um dois
menor que um inteiro
maior que a caída partícula
do sentir apertado
suscito alegria

do meu cheiro queria você
de você queria a lembrança

só lembrar
porque ainda estou aqui

(tu) querias mais perguntas do que término

e é mais "que" enrolado;
sem explicação
do porquê de ser anaforicamente correto

sem vácuo preso;
mais oculto
mais sombrio
e conquistador

sem solitude pura
nem solidão que dure
ou tempo que cure

sem Edward Hopper
nem roupas de viagem
ou dicotomias que apareçam em néon

maior que a dignidade assolada
e menor que a aguda ferocidade

não passa do público
por medo de ser outrem
não entra no mar
pois o mar é grande
e a dor não ocupa
aguada permanece

não preenche bagagem
não disfarça motim
não morre
nem mata

e apenas vive


sábado, 17 de abril de 2010

Cem meia luas na noite

Suntuoasamente uno a mente ao coração. Uso a magnanimidade do que me cobre, o tecido fino, a sandália frágil que calça e conforta. O livro ainda cheira a nós. Fatidicamente flutuei. Ou apenas insisto por precaução? Nada ao oposto de ser fim preocupa-me, nada que venha a ter o bridão de um alazão certeiro, que cerque, que prenda... Nada como matar por ilusão. E a culpa não te assustará nos dias de meia lua.
Nos dias de vento, ponha-se a secar o que sobrou de alguns pensamentos. Conforme-se com a felicidade que conseguir, acompanhe-a ao medo sempre que se perder, mas não a corrompa.
Nas minhas artérias incontáveis, ainda pulsam alguns sentimentos, ainda soam alguns ruídos, mas a integridade do que foi esquematizado por conceitos intracranianos me reprime silenciosamente. E, no momento seguinte, as duas vozes se unem, as músicas unem-se aos corpos, esbaldindo todo e qualquer preceito subvertido.
E não me contendo em imaginar a prosa, também viro. Viro por ser humano. Viro homem pequeno. Viro o pequeno príncipe. E não teimo em terminar o que digo, porque disso tudo só me sobra a razão.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Prosa do desdobramento de mim*

Sem poesia melodramática, sem satisfação de ego, sem paredes pintadas, sem banheiro privado, sem dicionários, calendários, tempo nulo... tempo preso, sem papel e caneta, mas com um teclado bastante hábil. É assim que eu me vejo: sem explicação, sem fortes remédios que detenham uma dor de cabeça consecutivamente esclarecida. Sem poesia deliberada. Uma poesia inventada, achada, roubada. Uma poesia mentirosa, que dói, mas que acalma. Sem sensibilidade repetida (ou pelo menos demonstrada), sem hibérboles, metáforas, onomatopéias, não, não, não... Sem ruídos. Surdo, mudo, cego, pálido, mas com alguns olhares na noite em que o tormento de sonhos BONS (sim, eram bons), de olhares bons... de apetite sexual, do desejo de ser sensual. Sem vazio. Mas incompleto. Inconstante como o Kauam, forte como a Alanie, paciente como a Flora, severo como o Álvaro e doce como o Ruan. Sem imposição. Pulsante, carnívoro, carente, ambíguo. Sem poesias novas. Com as mesmas de antes, diante de um desenvolvimento diferente. Cem minutos esperando, cem horas, cem dias vai esperar. Sem língua dobrada, mas com um incrível grito preso. Sem amor pessoal, mas com alguns impessoais. Sem complexidade. Não, chega de complexidade. Chega de mistério, chega de verbalização... Prefiro as letras, prefiro o signo explícito. Prefiro esse signo tatuado. Prefiro o símbolo, o digno. Chega de discurso e discussão. Chega de maquinação. Chega, apenas.

*nota: título de autoria de Alanie S. Ramos Mineiro.

sábado, 10 de abril de 2010

Carta

Querido Deus,

Venho por meio desta carta-virtual fazer alguns pedidos e ressaltar alguns pontos. É bem raro esse negócio de enviar cartas ao Senhor. Nem sempre chega, né? Até o Sedex falha de vez em quando... Muitas vezes observo pessoas nas ruas gritando o Seu nome enlouquecidamente, mas pensei em fazer diferente. Por um instante de perda ou por uma pequena solidariedade e reconhecimento social, devo-te suplicar um muito de pão aos inocentes, um pouco de culpa aos injustos, um minuto de esperança aos desesperados. Sei que nada disso é culpa do Senhor e que nós criamos essa parafernalha a que chamamos de mundo (eu chamo de submundo).
As horas cada vez mais rápidas tornam anciosos os homens, e eu estou aqui. E é tão difícil, Pai, de disseminar o amor e construir a fraternidade. Te peço abrigo aos pobres, sabedoria a todos nós ignorantes, compreensão aos incorformados. Solicito, às 03:00h, mais água no planeta, menos guerra (sem espeficações), algumas doses de paciência, carinho, fidelidade. Algumas doses de sentimentos bons para quem acordou sem nada. Algumas doses de confiança, equilíbrio, valorização.
E sei que é pedir muito, Senhor, mas eu esperarei por uma mudança gradual. Peço menos imaturidade sempre, mais consciência (palava de sentido próprio para cada um) e umas verdades, umas verdades inundadas de bondade. Mas também peço-te desculpas pelo incômodo... Perdão pela culpa, pela fragilidade. E muito em breve, Senhor, prometo-te uma carta de agradecimentos (porque esta tenho a certeza de que será maior).

Muitos beijos e muitos cheiros no Teu cangote,
Rafael Sady




quarta-feira, 7 de abril de 2010

A liberdade do Thomaz

(23:31) thomaz:
Porque tu és assim?
Tão doce e gentil.
Não vejo mais aquela dureza que outrora existia.

Oh leão, não há mais bravura.
Agora vejo a ti na mais bela flor.
Que se permitires, coloco no mais belo vaso.
E prometo cuidar com o maior carinho.

Mas não há vaso. Na falta de um, te guardo no meu coração.
O que me importa, na verdade, é que estejas seguro e bem pertinho de mim.
(23:34) raaaaafs !: Que lindo. ._.
(23:35) raaaaafs !: É seu?
(23:35) thomaz: Acabei de escrever, pra você!
(23:35) raaaaafs !: Meu Deus, que lindo.
(23:36) raaaaafs !: Sem palavras. @_@
(23:36) raaaaafs !: Chega me arrepiei quando li. UHAHUA
(23:36) raaaaafs !: Sério.
(23:37) raaaaafs !: UHAUHA Aii, vou postar no meu blog. /x3
(23:37) raaaaafs !: Deixar registrado lá.
(23:37) thomaz: Foi tão expontâneo e tão sincero. Que assim, até eu fiquei sem palavras agora.
Mas acho que já disse tudo, né?
(23:38) raaaaafs !: Ahaaaaaaaaaaam. /ç;
(23:38) raaaaafs !: Ai, fiquei empolgado. /zz
(23:39) thomaz: Você que me motivou a escrever. *-* E olha só o que saiu. Até que não ficou tão mal.
Acabei de descobrir que você me inspira!
(23:40) raaaaafs !: É mais gostoso quando sai espontâneo do que quando sai pensado, né?
(23:41) thomaz: Bem mais. *-*
(23:41) thomaz: Ai, tô feliz! hahahahaha
(23:42) raaaaafs !: Que bom. *-*

perspectiva

o homem na janela com o cigarro
seu isqueiro acende
no meio, entre noite e vento,
uma única chama
aquece o corpo do homem

o homem na janela sai por um momento
o vento, a chuva
dissipam todas as idéias conscientes
no medo, no tempo
acender o cigarro é só uma distração

o cigarro teima alguns minutos
poucos
entre o vento
o tragar
e o soltar

o cigarro aceso na imensidão
somente visto por outro alguém
que por um minuto
decidiu ir a janela

Nan, você é a mais gata e divertida.
MEU HOMEM COM CIGARRO, te amo, ok?

terça-feira, 6 de abril de 2010

Desmotiva(n)do, ele desmotiva.

Quase ingênuo, quase intocável. Tão quase perto de ser ele mesmo, mas resiste. E não falo de mim dessa vez. Não me contento só a me criticar mentalmente. Poeticamente infalível ele é. Ele é tanto, tanta coisa, tanta simplicidade que não se contém SOMENTE num sim ou não. Não se contenta apenas no permanecer, mas são estáticos os sentimentos. Eles sobem, descem, caem, viram, mas permanecem fincados a um único e poderoso coração. Gostaria de ajudar, mas não posso.
Meras palavras se despedem dissipadas nesse ar incontido daquela mesma amarugem de estruturas anteriores. Não se forja o explícito, não se anulam as acepções internas, humanas, naturais e sobrenaturais. Não pode-se ser tão nobre esta alma pesada, porque naqueles olhos mesquinhos, naqueles olhos que se recusam a sorrirem livremente, ele tenta encontrar significados.
Se explicações fossem válidas, indicaria-lhe dicionários e gramáticas práticas, porque assim a absorção de todos esses conflitos se daria de forma natural. Mas tu és duro. Uma pedra de gelo roxa, que não deseja apenas se derreter... Não manche seu carisma com teu roxo! Não manche a sua vida (que para ti até seja insignificante, mas alguns outros pobres - não nobres - a merecem). Elevo-te a grande poeta, elevo-te a sentimentalista do século, mas não roube a felicidade de faces repressivas. Instintivamente, desloque-se pela brisa de outonos saudáveis, pelos anos aceitáveis de uma velhice surpreendentemente boa. Não tenhas medo de ser feliz, por isso sejas por si só.