sábado, 26 de setembro de 2009

Lembranças de um futuro

Lembro-me daquele tempo em que o medo de perder era maior que a dor de vencer. Lembro-me de sons figurados e dissimulados, mutuando qualquer lembrança cumulativa. Lembro-me do gótico, do gélido e da alegria que foi vencida pelo cansaço de só mais um dedo opositor, de só mais uma voz sedutora que indicava qualquer caminho inventivo.
Lembro-me de pontos e vírgulas postos numa graduação famigerada. Lembro-me de alguns corais (tanto dos corais marinhos quanto daqueles unidos em uníssono). Lembro-me até da aliteração de uma poesia solitária, pobre e pesada. Lembro-me de um apontar árduo de espécie simétrica, talvez dos acentos esquecidos e do sorriso apertado, forçado, suscitado de agonia. Lembro-me de tantas esquinas que esperaram só mais um conselho de Pitágoras. Lembrei apenas dos melhores, e entre eles estava Drummond, Clarice e Machado.
E assim, contrário e perdido, eu somente lembrei de ter vivido a sorte de uma língua sem dobras, de uma consciência sem limites, de um viver encharcado de chuva fraca e fina, que insiste em desaguar monossilabicamente nos olhos cansados que enxergam mais que o ontem possa alcançar e mais que o limite possa nascer.

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